Alessandro di Mariano di Vanni Filipepi - "Botticelli"
O nome "Botticelli" surgiu a partir de um apelido dado ao irmão mais velho do pintor, aludindo ao formato do seu corpo, que era similar a um pequeno barril (botticello, em italiano). Apesar de não ser propriamente um elogio, foi assumido como nome de família e, desta forma, Alessandro di Mariano Filipepi ficou conhecido como Sandro Botticelli. Sandro é abreviação de Alessandro, conforme o costume italiano de fazer esta diminuição no nome. Foi um dos principais artistas do Renascimento.
A obra O Nascimento de Vênus é representativa da personificação de ideal da beleza feminina. Nela apresenta-se o momento em que a deusa emerge do mar em uma concha, empurrada pelo vento Zéfiro e recebe um manto, provavelmente inspirado nos contos de Metamorfose (Ovídio), mas também poderia ser interpretada como o nascimento da alma pelas águas do batismo. Para o Dicionário Oxford de Arte, "Como os neoplatônicos consideravam a Beleza como o sinal visível da Divindade, não havia blasfêmia em utilizar a mesma expressão facial para Vênus e para a Virgem Maria".
A Vênus de Botticelli é tão bela que não nos apercebemos do comprimento incomum do seu pescoço, ou o acentuado caimento dos seus ombros e o modo singular como o braço esquerdo se articula ao tronco. Ou, melhor ainda, deveríamos dizer que essas liberdades que por Botticelli foram tomadas a respeito da natureza, a fim de conseguir um contorno gracioso das figuras, aumentam a beleza e a harmonia do conjunto na medida em que intensificam a impressão de um ser infinitamente delicado e terno, impelido para as nossas praias como dádiva do Céu.
Sandro Botticelli nasceu no dia 1º de Março de 1445 (em algumas fontes, encontrou-se 1444 e, em outras, 1446. Mesmo com tantas pesquisas acerca de artistas famosos, por vezes é difícil delimitar precisamente as datas pontuais em suas vidas antes de obterem fama, visto que os documentos e registros nem sempre são localizados ou não estão íntegros), em Florença, Itália, e não há muitos registros sobre sua infância. Giorgio Vasari (1511-1574) relata que seu pai, Mariano Filipepi, cuidou para que ele aprendesse tudo que as crianças da época tinham costume de estudar para serem bons comerciantes. O menino entendia rapidamente tudo o que gostava, mas não tinha muita paciência para leitura, escrita e aritmética, então seu pai, obstinado em dar-lhe os conhecimentos de uma profissão, encaminhou-o a um grande mestre da ourivesaria.
Havia uma relação próxima entre ourives e pintores. Convivendo com eles, o jovem rapaz, que já demonstrava grande aptidão para o desenho, interessou-se por pintura. Seu pai, conhecendo os caprichos do filho, levou-o para ser aprendiz de Fra Filippo Lippi (1406-1469), cuja influência é grande no seu estilo. Sandro tornou-se um grande gravador e, aos 25 anos, já possuía seu próprio ateliê de pintura, que foi muito bem frequentado ao longo de sua existência (um de seus aprendizes mais conhecidos é Filippino Lippi) e muitas de suas obras resistem até os dias atuais.
O mestre Filippo Lippi apreciava Masaccio (1401-1428) e ensinou a Botticelli e a seus colegas (entre eles Andrea del Verrocchio) o seu naturalismo científico para a exímia e naturalista representação das figuras (usando a perspectiva para dar ilusão de tridimensionalidade). Porém, não se restringiu a isso, já que seu próprio exemplo era de um estilo transformado em linear e carregado de motivos decorativos - vestes leves e esvoaçantes, brocados, etc. demonstrando a melancólica delicadeza e a primorosa luz pálida que caracterizam sua obra.
Destas influências e aprendizados, pode-se perceber que as formas ditas desproporcionais do pintor não se devem à falta de conhecimento do corpo humano ou de técnicas de desenho, e sim a uma "licença poética", visando dar mais graciosidade, beleza e harmonia às composições.
Com relação aos estúdios do período, Julian Bell afirma: "Todas as indicações sugerem que as relações entre mestres e mancebos nos ateliês florentinos eram frequentemente sexuais, embora as 'preferências sexuais' estivessem longe de ser o problema que são hoje". Comenta ainda que Botticelli, segundo relatos, gostava de meninos e, em sua arte, era obcecado pela feminilidade. Era uma estética de linhas finas e superfícies rebrilhantes.
Participando das discussões filosóficas, aprendeu o neoplatonismo cristão, o qual tentou conciliar com as ideias clássicas. Com as encomendas de obras mitológicas, feitas por Lorenzo di Pierfranceso de Medici (não confundir com "o Magnífico"; ele era primo em segundo grau deste), ele aprofundou seus conhecimentos em mitologia, não se restringindo a apenas narrar histórias dos deuses olímpicos de Ovídio, mas sim fazer uma "personificação simbólica de alguma verdade moral ou metafísica".
O pintor dedicou sua carreira às famílias florentinas, sobretudo à família Médici, de banqueiros, cujo patronato recebeu após a confecção da tela A adoração dos Magos (1475), na qual supõe-se que a figura à esquerda do quadro, olhando para o espectador, seja um autorretrato do jovem Botticelli. Ter qualidade de vida garantida, pela proteção dos Medici, foi muito importante para dar ao pintor condições de criar muitas obras e estar dentro dos círculos intelectuais da época.
A Adoração dos Magos segue o cânone da estrutura compositiva da "imagem em triângulo", maximizando a ideia de crença na convergência de todas as verdades em uma só. Apresenta um tema recorrente, de narrativa bíblica: Maria segurando o menino Jesus, que atrai todos os olhares do quadro. Está ambientado em ruínas greco-romanas o que reforça a esperança em Cristo. Os demais personagens são pessoas ilustres da época (Cosimo, il Vechio; Piero, il Gottoso; Lorenzo, il Magnífico, etc), como os Medici, por exemplo, mesmo que o quadro tenha sido encomendado para o sarcófago da família de Giovanni di Zanobi dal Lama (que aparece no quadro à direita, com cabelos brancos e veste azul, bem discreto).
"O quadro Alegoria da Primavera (abaixo), é um exemplo da utilização das narrativas mitológicas para execução de uma pintura, supõe-se que Botticelli tenha se baseado em odes de Poliziano, no Fausto de Ovídio e no De rerum natura de Lucrécio. A obra apresenta o momento em que Clóris é devolvida à terra e transforma-se em Flora, ao centro representa Vênus e seu filho Eros, e à esquerda pode-se ver as Três Graças e o deus Hermes".
Em 17 de maio de 1510, Sandro Botticelli falece em Florença...